É preciso começar pelo início. Duas questões se poêm: se a Teoria de Representação estabelece um meio de determinar representações de um grupo, o que significa exactamente um grupo ou uma representação?
A pergunta é inocente mas necessária. De um modo geral, uma maneira saudável de visualizar o problema seria: “Dado um grupo de rotações – um conjunto de rotações e transformações de elementos, que mapas posso eu criar que mantenham a estrutura do grupo num contexto de matrizes? É aqui que reside a parte computacional da Teoria: a utilidade máxima é de representar grupos, normalmente como transformações, simetrias, através de uma certa álgebra noutro espaço. Neste caso, o espaço escolhido é o espaço de todos os operadores lineares de um espaço vectorial, como vamos ter a oportunidade de ver.
Um espaço vectorial – a ideia
Uma das maneiras mais simples de criar um sistema algébrico é através de operações simples: nomeadamente a adição e a multiplicação. No entanto, definir multiplicação de objectos não é uma operação consensual. Muitas imposições podem ser impostas: pensa como é diferente a ideia de multiplicação entre números, vectores e matrizes ou mesmo de tensores; até multiplicação de conjuntos pode ser definida. Estas operações variam muito na definição e então multiplicação não é então uma operação desejada. Uma subsiste no entanto: o conceito de escalonamento de um objecto é algo relativamente bem definido: pegando num objecto, temos a noção que podemos multiplicar o mesmo por um factor que o mantenha fixo, se torne maior ou menor. O conceito de linearidade nasce destes dois conceitos básicos. Daqui, o espaço de todos os vectores resultantes destas operações é criado – chama-se um espaço vectorial.
Definição 1: (Espaço Vectorial)
Seja um conjunto de elementos. Um espaço vectorial sobre um corpo é um triplo em que and são operação binárias tal que
- (Comutatividade da Adição)
- (Associatividade da Adição
- tal que (Existência de uma identidade aditiva)
- , tal que (Existência de uma inversa aditiva)
- , (Distributividade da multiplicação escalar com respeito à adição)
- , (Distributividade da muliplicação escalar com respeito à adição do corpo (1))
- , (Compatibilidade da multiplicação escalar com a multiplicação do corpo (2))
- tal que (Existência de uma identidade multiplicativa escalar)
Porquê “sobre um corpo
É necessário ler, uma por uma, as propriedades e entender o que é permitido fazer possível num espaço vectorial. Não muito: adicionar elementos e multiplicá-los por escalares; mas o que é um escalar, neste contexto?
Os “números” que “escalonam” um dado elemento são chamados de “escalares” e são constantes. O conjunto escolhido podia ser aleatório no entanto escolheu-se um tipo muito específico: um corpo. Relembra-te o que é um corpo neste post. A justificação é muito básica:
- Somar qualquer múltiplo de um elemento é sempre bem definido, pois a soma dos escalares está de novo no conjunto inicial.
- Para qualquer soma há sempre uma “subtracção” tal que o resultado seja revertido ao início. O mesmo se aplica a múltiplos de elementos.
- Para qualquer múltiplo de um múltiplo, o múltiplo final está de novo no conjunto e então é bem definido – axioma 7.
- A existência de elementos “neutros” para a multiplicação e adição de vectores.
Embora a teoria seja geral e se inclua qualquer corpo , os mais comuns são os números reais e os complexos . O espaço vectorial é então denotado por real ou complexo, respectivamente.
Exemplos
O melhor exemplo é dado pela motivação da definição: um conjunto feito de vectores no plano ou no espaço. Adicionar é definido pela “regra do triângulo” e a multiplicação escalar como o alongamento ou retracção do comprimento do vector, mantendo a mesma direcção.
Mais exemplos podem ser dados. Exemplos mais sofisticados incluem um conjunto de funções contínuas num intervalo fechado. A adição é definida como , para no intervalo e .Agora que sabemos o que é um espaço vectorial, temos ferramentas para estudar espaço vectorial importante: o de operadores lineares num espaço vectorial. Mais no próximo post!
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(1) A propriedade de que é um corpo faz com que . É uma propriedade bem definida então.
(2) Pela mesma razão que (1), a multiplicação de elementos de um corpo é igualmente bem definida, pelos axiomas de corpos (a multiplicação é uma operação binária e portanto fechada)